Além de fazer a voz brasileira na animação e no live-action, o ator tem uma longa história de dublagens na Disney.
A dublagem brasileira é considerada uma das melhores do mundo. E, ao longo dos últimos 100 anos, muitas versões dubladas se tornaram marcantes. Uma delas é a do reconhecido dublador carioca Márcio Simões, que entrou para a História da Disney fazendo a voz brasileira do Gênio em Aladdin.
Esta, no entanto, não é a única parceria de destaque entre os dois. “Se a gente puxar pela memória, eu já fiz um caminhão de coisas, tanto para a Disney quanto para a Pixar”, relembrou o ator em entrevista para o site da Disney Brasil.
Márcio Simões faz parte dos 100 anos da Disney
De fato, Simões é, por exemplo, a voz do Nick Fury nas produções do Universo Cinematográfico Marvel (UCM), é a voz de Hades em Hércules (1997), de Gill em Procurando Nemo (2003), o Stitch de Lilo & Stitch (2003), o Chefe Skinner em Ratatouille (2007) e outros mais.
A seguir, confira um bate-papo em que ele fala sobre o Gênio nas duas versões de Aladdin, seus desafios profissionais, a dublagem brasileira e muito mais:
Disney Brasil: Como foi a experiência de dublar o Gênio de Robin Williams na animação Aladdin, de 1992?
Márcio Simões: Que presentão que eu ganhei ao dublar o Gênio do Aladdin! Aliás, foi um divisor de águas na minha carreira. Fiz testes como todo mundo e assim, tentar acompanhar o que o Robin Williams fez era realmente muito difícil. Ele era um excelente ator, comediante e também imitador! Então, a dificuldade maior, na verdade, foi como adaptar o texto dele. A alma dessa animação foi a tradução e a adaptação. Não basta só traduzir, tem que adaptar para a nossa realidade. Assim, as imitações foram adaptadas para ficar com cara de que ele falava o português do Brasil, né? E ainda tinha que ficar engraçado, porque o Gênio é muito engraçado.
DB: Como foi reviver o personagem quase 30 anos depois, agora sendo interpretado por Will Smith?
Márcio: Eu já faço a voz do Will Smith há algum tempo, mas ele sempre me surpreende. E nem todo mundo sabe, mas a gente tem que fazer teste. As pessoas dizem na internet “mas se ele dublou o Gênio na animação, tem que ser ele!”, e não é bem assim. Tem teste de canção e teste para dublar. Por sorte, eu fui eleito.
O Robin Williams era muito engraçado do jeito dele, mas o Will Smith também é. E aí vieram todos os desafios de fazer as canções, de fazer tudo. Realmente, me deu muito prazer, e me sinto sempre privilegiado de dublar esses grandes atores.
DB: Falando em canções, tanto a animação quanto o live-action são musicais. Dublar algum foi mais difícil que o outro?
Márcio: Na animação, as músicas eram legais e acabavam sendo as cenas em que eu me divertia mais. Mas o desafio mesmo foi fazer as canções da forma que o Will Smith fez, com esse rap dele.
E não era só pegar aquela gingada dele, tinha que ter o jeito de cantar; isso foi o que deu mais trabalho. Foi desafiador, mas prazeroso. É difícil comparar os dois; são duas pegadas totalmente diferentes, mas continua sendo o Gênio do Aladdin.
DB: Das duas produções, é possível escolher uma cena favorita em cada?
Márcio: Na animação, as canções eram as cenas mais legais de dublar. Mas no live-action, a cena que achei mais bacana foi aquela do deserto, em que ele, o Gênio, faz as roupas e tal… É muito engraçado!
DB: Impossível falar de todos os seus personagens na Disney porque foram muitos, mas o Stitch, da animação com Lilo, é inesquecível. Como foi chegar àquele tom de voz tão específico e icônico?
Márcio: Eu tento sempre recriar o que o ator [original] fez. Mas claro que não é uma cópia. Eu tento me basear no que foi feito e, depois, vou colocando minhas características. Chegar naquela voz deu muito trabalho.
Eu fiz testes também e, no teste, você tem poucas cenas. Então, já foi difícil. Ao longo do trabalho, você vai desenvolvendo melhor o personagem, vai colocando sua alma, seu coração, então vai ficando cada vez melhor.
A dublagem tem uma responsabilidade muito grande. Ela chega no coração das pessoas, de verdade. Se você não bota o seu coração, como é que você vai chegar lá?
E aí, em cima do jeitinho do Stitch no original, eu pus o meu. Certas coisas, mesmo de interpretação, eu fui fazendo à minha maneira, e foi ficando da forma que todo mundo conhece hoje.
DB: Falando na responsabilidade da dublagem, quais os principais desafios de um dublador?
Márcio: O grande desafio de ser um bom dublador é, primeiro, ter a consciência de que você vai recriar o trabalho que o ator fez, sendo fiel ao que ele fez. Só que em português e com nosso jeito de falar.
Mas o mais importante é a dublagem passar “despercebida”. Você não pode perceber que está dublado. O personagem, desenho ou ator, tem que parecer que ele fale português.
DB: Tem gente que reclama de dublagem, critica, acha bobagem. Qual é a importância da versão dublada?
Márcio: A importância da dublagem, na verdade, não é só para as pessoas que não conseguem ler uma legenda, ou porque a legenda é muito rápida ou é uma pessoa mais idosa. Já no caso dos deficientes visuais ela é imprescindível. Então, a dublagem é muito importante e tem que ser bem feita!
DB: O que é uma dublagem bem feita? Por que você acha que a dublagem brasileira é considerada uma das melhores do mundo?
Márcio: Eu já assisti a alguns filmes dublados lá fora e não vejo a preocupação com o sincronismo que nós temos. E com a interpretação, a questão de passar despercebido. Mas é a sincronia, basicamente.
Uma boca aberta de A, eu não posso falar um som de I, não vai encaixar nunca. A adaptação é isso. Eu vejo que a palavra não vai combinar, a gente muda um pouquinho e só.
A gente tem um cuidado muito grande com a sincronia porque está tudo ligado. Se você está assistindo a um filme e uma boca bate fora (em relação ao que é dito), você prestou atenção na dublagem e isso não é bom. A dublagem tem que passar despercebida.
DB: De volta ao universo Disney, quais memórias de bastidores da dublagem ou mesmo dos filmes são marcantes para você?
Márcio: São muitas! [risos] Tem coisas das adaptações, coisas muito legais que eu vi e fiquei feliz, e nem são necessariamente trabalhos meus. Por exemplo, em Procurando Nemo, a sequência das tartarugas surfistas é maravilhosa!
Já em relação à adaptação, falar coisas da nossa realidade, que conseguimos deixar com a nossa cara, era muito divertido! Para mim, algumas das frases mais legais, que me deram muito prazer fazer a adaptação, foram as cenas de Hércules.
Tem umas frases engraçadas do personagem Hades, como quando ele fala “Eu não fico sem palavras assim desde quando eu me engasguei com um pedaço de ambrosia”, ou então “Zeus, o gostosão do Olimpo, o rei da cocada grega”. É impossível não se divertir!